EUA abandonam escravidão do petróleo
Os EUA estão produzindo a maior quantidade de petróleo em 31 anos, o crescimento econômico está acelerando e os preços do petróleo bruto estão despencando. Então, por que os americanos estão usando menos petróleo?
À medida que os EUA chegam cada vez mais perto da independência energética, a maior eficiência do combustível, as mudanças na demografia do país e o incremento da energia renovável estão alterando a dinâmica que antes teria provocado um aumento da demanda por gasolina. O PIB, o valor de todos os bens e serviços produzidos nos EUA, cresceu a um ritmo de 2,4 por cento no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O consumo de petróleo recuou 0,3 por cento, mostram dados do governo.
“A demanda por petróleo e o crescimento do PIB andavam de mãos dadas no passado”, disse Christopher Knittel, professor de Economia Aplicada na Sloan School of Management do MIT, em entrevista por telefone de Cambridge, Massachusetts, em 8 de dezembro. “Agora, em certos aspectos eles estão quase independentes um do outro devido aos investimentos na economia de combustível, que tenderam a quebrar o elo”.
O boom do xisto levou a produção dos EUA para seu máximo semanal desde 1983. A produção de petróleo aumentou 65 por cento em apenas cinco anos, e o país suprirá 89 por cento da sua própria energia em 2014. Os EUA vão exportar mais do que importar energia até 2025, disse a Wood Mackenzie Ltd. em uma nota de pesquisa, em outubro. A Secretaria de Informações de Energia prevê um avanço de 0,7 por cento na demanda no ano que vem; analistas consultados pela Bloomberg esperam que a economia se expanda quatro vezes mais rapidamente.
Um modo mais fácil de ver como os americanos estão dependendo menos do petróleo: 1.178 barris foram consumidos por dia por cada US$ 1 bilhão do PIB em setembro, uma queda de 33 por cento frente a 1.760 barris diários há vinte anos.
Economia de combustível
Algumas dessas cifras podem ser explicadas pelo aumento da economia de combustível dos carros nas estradas americanas. Em média, os carros vendidos em agosto podiam viajar 10,9 quilômetros por litro de combustível, 28 por cento a mais do que em 2007, segundo o Instituto de Pesquisa sobre Transporte da Universidade de Michigan.
A produção de biocombustíveis também está contribuindo para reduzir a quantidade de petróleo na gasolina. O etanol agora representa cerca de um décimo das vendas de combustíveis para motor nos EUA. O consumo de gasolina caiu 3,7 por cento desde 2010, mesmo com uma alta de 0,8 por cento no número de quilômetros percorridos nas estradas dos EUA.
Além disso, é necessário considerar o efeito dos jovens americanos que se mudam para as cidades. A população nas áreas dos centros urbanos cresceu a mais de duas vezes a taxa geral das áreas metropolitanas nos EUA entre 2000 e 2010, segundo a Secretaria de Censos. Mais pessoas que moram no centro das cidades equivalem a mais pessoas que podem andar sem carros.
Mais vendas
Nos últimos cinco anos, as vendas das empresas americanas de energia renovável subiram a um ritmo anual de 49 por cento. As empresas de petróleo, gás e carvão cresceram 9,4 por cento. A produção de energia renovável aumentou para o recorde de 252 milhões de megawatts-hora em 2013, mostram dados compilados pela Bloomberg. O petróleo gerou 13 milhões de megawatts-hora, uma queda 88 por cento desde 2003.
Há também uma distorção no caso da independência energética – preços mais baixos do petróleo poderiam, paradoxalmente, enfraquecer a demanda. O raciocínio é o seguinte: o declínio no petróleo dará aos consumidores mais renda disponível que eles podem usar para comprar veículos mais eficientes, disse o economista de energia Philip Verleger em entrevista por telefone de Carbondale, Colorado, em 8 de dezembro. Do mesmo modo, as companhias aéreas reinvestirão os lucros possibilitados pela baixa do combustível para comprar aviões novos com motores econômicos, disse ele.
“Os consumidores estão fazendo o máximo possível para não terem que comprar produtos de petróleo”, disse Verleger. “A queda dos preços do petróleo vai acelerar a morte do próprio combustível”.
Fonte: Bloomberg