O sabor da matemática
Não se deve ter orgulho de desconhecer certos conceitos básicos de matemática. Por isso, é saudável registrar que a ciência do raciocínio avança em nosso país, como seria desejável. Mas é claro que é preciso fazer muito mais —e rapidamente.
Tive o privilégio de estudar na Uerj com grandes mestres, como Haroldo Lisboa da Cunha, Luís Caetano de Oliveira (professor de mecânica), Bayard Boiteux, Dora Waga Genes, Arcy Tenório d’Albuquerque, Josué Afonseca, Saulo Diniz Swerts e outros mais que marcaram suas aulas com uma qualidade insuperável. Estão sendo seguidos pela atual geração de bons professores de outras instituições, como Marcelo Viana e Artur Avila (detentor da famosa e rara Medalha Fields, o prêmio mais prestigioso da disciplina), que brilham dentro e fora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Tive um professor que alertava sempre a turma: “Vocês têm que saber matemática até para não serem enganados no troco do ônibus ou do lotação”. Sábio conselho.
Eu me esforcei para aplicar meus conhecimentos —primeiro como professor de desenho geométrico no recém-criado Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (da Uerj) e depois como professor de geometria analítica dos cursos de matemática, física e química da Uerj— por uma longa temporada, antes de me transferir para a área de humanas (história e filosofia da educação). Mas os conhecimentos amealhados na matemática foram fundamentais na minha formação cultural. Sempre levei em conta o pensamento do sábio Galileu Galilei: “O livro da natureza foi escrito na linguagem da matemática”. É por isso que não se pode aceitar a sua aura de impenetrável, com as suas complexidades. Estudá-la e compreendê-la é um exercício fascinante.
Procurei transmitir os meus conhecimentos aos alunos do ensino fundamental por intermédio de competentes livros didáticos, produzidos em Bloch Editores, com a parceria da saudosa professora Beatriz Helena Magno, também formada na matéria no mesmo curso da Uerj. Um dado de que me orgulho muito: na década de 1970, nos programas oficiais do MEC, vendemos mais de 10 milhões de livros —o que deixou o patrão Adolpho Bloch encantado pelo feito, pois viu suas rotogravuras, vindas da Alemanha para rodar a extinta revista Manchete, darem expediente para imprimir livros didáticos. Ele repetia sempre: “Nunca pensei nisso! Viva a matemática!”.
O novo sistema de inteligência artificial vai operar com a inédita ajuda da matemática, a ciência dos números. Há um novo projeto em andamento intitulado Q-Star, um sistema de IA supostamente capaz de solucionar problemas matemáticos para os quais não foi programado. À medida que avança, aprende sozinho. Embora contenha algo de “mágico”, são questões técnicas que envolvem matemática e conceitos das ciências naturais.
Como afirmou a professora Dora Kaufman, da USP, a IA pode acelerar o desenvolvimento de tecnologias de energia limpa, para melhorar previsões. É um item de que andamos sinceramente muito necessitados, sobretudo agora que o presidente Lula abre perspectivas de presença do Brasil junto a países da Opep. Devemos estar presentes, mas em condições de igualdade, no momento em que o mundo começa a discutir as limitações da energia fóssil —que um dia vai acabar.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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