Explosões atingem dois navios petroleiros no Golfo de Omã; sem provas, EUA acusam o Irã
Teerã vê coincidência suspeita no momento em que recebe a visita do primeiro-ministro do Japão; preço do petróleo, que vinha despencando, sobe
RIO — Dois navios petroleiros , um japonês e outro norueguês, foram atacados com artefatos explosivos na manhã desta quinta-feira no Golfo de Omã , obrigando as tripulações a abandonarem as embarcações, um mês após quatro incidentes semelhantes. A natureza e a autoria dos ataques ainda não foram determinadas, mas as explosões aumentaram a tensão na região, por onde passa boa parte do petróleo do mundo. O preço internacional do barril, que vinha despencando e chegou a US$ 59,97 dólares na quarta-feira — a menor cotação desde janeiro —, chegou a subir 4% e fechou com alta de 2,2%.
No início da tarde, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo , acusou o Irã de responsabilidade pelos incidentes.
— Essa conclusão é baseada em inteligência, nas armas usadas, no nível de expertise necessária para executar a operação, em ataques recentes à navegação na região e ao fato de que nenhum outro grupo operando na área tem os recursos e a capacidade para agir com tal nível de sofisticação — disse Pompeo, sem divulgar provas concretas da acusação e logo endossado pelo chanceler da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir.
As tensões na região vêm crescendo desde que os Estados Unidos impuseram sanções contra as exportações de petróleo do Irã, em novembro de 2018, prometendo reduzi-las a zero . Comandantes da Guarda Revolucionária iraniana ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz , que liga o Golfo de Omã ao Golfo Pérsico, se o país for impedido de transportar seu petróleo. Além disso, o Irã enfrenta atritos com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, ambos aliados americanos, por causa da guerra no Iêmen, onde as monarquias do Golfo Pérsico e Teerã apoiam lados opostos.
Os incidentes aconteceram no momento em que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, faz uma visita oficial a Teerã, em uma tentativa de mediação entre o Irã e os Estados Unidos. Abe, próximo a Donald Trump, mas favorável ao acordo nuclear com o Irã que foi abandonado pela Casa Branca no ano passado, se reuniu com presidente Hassan Rouhani e com o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país. O Japão era um dos principais clientes do petróleo iraniano, mas está sendo obrigado a reduzir suas compras por causa das sanções americanas.
“A palavra ‘suspeita’ é pouco para descrever o que se pode deduzir desses ataques contra navios petroleiros vinculados ao Japão ocorridos quando o primeiro-ministro (Abe) estava reunido com o guia supremo do Irã”, escreveu o chanceler do Irã, Javad Zarif, no Twitter.
— A segurança é muito importante para o Irã na já sensível região do Golfo Pérsico, no Oriente Médio, na Ásia e em todo o mundo. Nós sempre tentamos garantir a paz e a estabilidade na região — disse o presidente Rouhani.
À noite, a missão do Irã na ONU divulgou uma nota em que rejeita “categoricamente” a acusação de Pompeo e a condena “nos termos mais fortes”. A nota acusa os EUA e seus aliados sauditas e emiratis de “belicosidade” e pede que “a comunidade internacional assuma sua responsabilidade em prevenir as políticas e práticas irresponsáveis dos Estados Unidos e seus aliados regionais que aumentam a tensão na região”.
Socorridos pelo Irã
As primeiras informações sobre as explosões vieram da mesma agência estatal libanesa associada ao Hezbollah que noticiou as sabotagens contra quatro petroleiros que ocorreram em 12 de maio. Uma investigação determinou que os incidentes do mês passado foram causados por minas presas magneticamente às embarcações. Na época, a Arábia Saudita e os Estados Unidos culparam publicamente o Irã, que, como agora, rejeitou a acusação.
A imprensa oficial iraniana afirmou que equipes de resgate do país retiraram 44 pessoas das duas embarcações, levando-as em segurança até o porto de Jask. Os ataques aconteceram um dia depois de rebeldes iemenitas houthis , aliados do Irã, atacarem um aeroporto na Arábia Saudita, ferindo 26 pessoas.
A Quinta Frota da Marinha dos Estados Unidos, baseada no Bahrein, disse estar ajudando os dois navios, que emitiram pedidos de alerta perto da costa dos Emirados Árabes, próximo ao Estreito de Ormuz, por onde passa quase um terço de todo o petróleo transportado por via marítima no mundo.
Um dos navios, o Front Altair , norueguês registrado nas Ilhas Marshall, carregava 75 mil toneladas de nafta , um derivado petroquímico, quando sofreu a explosão, atribuída por tripulantes a uma mina magnética. O navio estava alugado à petroleira estatal taiwanesa CPC.
Já o Kokuka Corageous , navio japonês registrado no Panamá, teria sido atingido por um torpedo, que danificou seu casco acima do nível da água. Ele transportava 25 mil toneladas de metanol entre a Arábia Saudita e Cingapura, e estava alugado pela empresa japonesa Kokuya Sango. Pelo menos um tripulante ficou ferido.
A França, que opera uma base naval nos Emirados Árabes, pediu “contenção a todos os atores”, afirmando estar em contato com os países da região. A Marinha britânica disse que investigaria o caso. A Rússia advertiu contra atribuir os ataques a Teerã:
— Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para alertar contra conclusões precipitadas, contra tentativas de pôr a culpa naqueles de quem não gostamos — disse o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov. — Recentemente, temos visto um fortalecimento de uma campanha política, filosófica e militar que pressiona o Irã. Não queremos que esses eventos, que são trágicos e abalaram o mercado do petróleo, sejam usados especulativamente para agravar a situação iraniana.
Fonte: O Globo