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“Gasolinocídio” está criando o “Programa antiálcool”

ouro negroPode se afirmar que o “gasolinocídio” – política antiinflacionária com o congelamento dos preços do combustível – vem incinerando não só a Petrobras, mas também a indústria do álcool no Brasil. O “gasolinocídio” é só uma fração do malefício. É curioso que o governo do PT, com sua declarada vocação para o social, sofra uma brutal crise de labirintite ou talvez até uma bebedeira regulatória quando o assunto é uma política específica para toda a cadeia produtiva do álcool. Como se sabe, o setor é intensivo em mão de obra; isto para não falar dos dividendos ambientais e, last but not least, da maior produtividade do etanol na comparação com os demais bio­combustíveis. O álcool não sofre somente por estar indexado aos baixos preços artificiais da gasolina. Ele padece de um mínimo de consideração do governo, que o vem tratando como um insumo bastardo da matriz energética. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, com seu olhar esgazeado, que remete a uma ressaca sem fim, não dá uma palavra sobre o etanol. Por sua vez, a presidente Dilma Rousseff provavelmente só se lembra da indústria de álcool e açúcar quando é o caso de contar os votos dos milhares de colhedores de cana.

Nos últimos anos, as montadoras bateram recorde de produção graças à carreata de subsídios ofertados pelo governo, notadamente por meio da redução do IPI e das pancadas tributárias nos veículos importados. No entanto, esses benefícios jamais foram vinculados a uma política de estímulo à ampliação da frota movida a álcool. Entre 2010 e 2013, os modelos flex fuel responderam por mais de 85% dos carros vendidos no Brasil. Bem, metade desses automóveis poderia ser movida somente a etanol. Nesse mesmo período, as vendas de gasolina cresceram 40% e as de álcool caíram 20%. Não custa lembrar que, no período do Proálcool, no início da década de 80, a comercialização de automóveis a álcool chegou a ser bem superior à de veículos a gasolina. Nessa história toda, onde foi parar o discurso de redução da dependência da importação de petróleo, justamente o maior gerador do déficit de transações correntes? Isso para não falar da preocupação com o meio ambiente, ao que parece, uma questão desmatada na lista de prioridades do governo.

Seria de se esperar que o governo perseguisse uma permanente redução da relação entre os preços do álcool e da gasolina, o que, aliás, sempre foi um dos maiores apelos do biocombustível junto ao consumidor. No entanto, em fevereiro deste ano a proporção entre o custo do litro do álcool e da gasolina rompeu a barreira dos 70%. Por essas e por outras, o governo precisa decidir e explicitar de uma vez por todas se pretende ter um combustível made in Brazil. Uma indecisão prolongada será como acender um fósforo sobre toda a indústria alcooleira.

Fonte: Relatório Reservado

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