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Shell planeja ampliar presença no Brasil para além do petróleo

A Shell tem planos de investir, ao ano, cerca de US$ 2 bilhões em suas atividades, no Brasil, até 2025, mas pode aumentar esse montante para aproveitar novas oportunidades de aquisições nos três leilões de óleo e gás. O presidente global da companhia, Ben van Beurden, conta que a ofensiva da empresa, no país, não se concentrará só no setor petrolífero e que o plano de expansão da multinacional anglo-holandesa também passa pelo gás natural, biocombustíveis e energia solar. A entrada no refino, por sua vez, está descartada.

Depois de investir R$ 2,17 bilhões na aquisição de novos ativos de óleo e gás, nas rodadas de 2017 e 2018, a Shell vê espaço para aumentar sua presença no país, por meio dos novos leilões. De acordo com ele, o Brasil está no topo da estratégia global de crescimento da empresa em águas profundas.

“Estou ‘ok’ em ter mais exposição ao Brasil. Com certeza vamos dar uma olhada nos três leilões [de 2019]”, disse Ben van Beurden, em entrevista exclusiva ao Valor.

O executivo esteve reunido ontem com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) para, segundo van Beurden, expressar a “confiança e comprometimento” da Shell com o país e ouvir os planos do governo para o setor. O Brasil está entre os três principais países do portfólio da companhia. A previsão da empresa é que sua produção em águas profundas possa ultrapassar o patamar de 900 mil barris diários de óleo equivalente (BOE/dia) em 2020 e que o Brasil pode representar metade desse volume.

Ben van Beurden disse que vê o leilão dos excedentes da cessão onerosa, previsto ocorrer em outubro, como “atrativo”, porque se trata de ativos com reservas provadas e em produção.

“Mas não sou obcecado por reservas. Na nossa estratégia é o valor, não volume, o que importa”, afirmou o executivo, ao ser questionado se via no leilão dos excedentes uma boa oportunidade de recuperar a perda de reservas da multinacional em 2018.

A Shell produz, atualmente, cerca de 375 mil BOE/dia, no Brasil. A petroleira opera o Parque das Conchas e Bijupirá-Salema (Bacia de Campos), e é sócia da Petrobras nos principais campos do pré-sal (Lula e Sapinhoá).

Embora seja uma empresa integrada, a Shell, contudo, não tem planos de entrar no refino no Brasil. Questionado se a empresa tem interesse no pacote de oito refinarias colocado à venda pela Petrobras, Ben van Beurden explicou que a Shell vendeu boa parte de seus ativos no refino, no mundo, nos últimos anos, e que o foco da companhia está, hoje, em refinarias integradas a complexos petroquímicos e a centros (“hubs”) de comercialização global. “O Brasil pode vir a ser um centro integrado, no futuro, mas não para nós neste momento”, comentou.

A Shell, porém, vê oportunidades de integração na cadeia de gás natural. O executivo destaca que a empresa “está pronta” para investir no mercado brasileiro, mas que ainda aguarda a definição do governo sobre as mudanças regulatórias.

“Acreditamos no gás como combustível do futuro e o Brasil é um grande mercado, mas precisamos de definições políticas para destravar esse mercado. Há muito gás disponível, especialmente no pré-sal, que precisa encontrar um lar”, disse.

Para o presidente da Shell, no entanto, o Brasil tem potencial para se tornar um agente relevante na indústria de energia como um todo, e não somente no setor de óleo e gás.

“O Brasil é um dos ‘players’ mais proeminentes em biocombustíveis, no mundo… Na geração de energia, queremos crescer nas próximas décadas nesse setor e o Brasil tem fantásticas oportunidades nisso, em energia solar, eólica, mas também em geração térmica a gás natural”, afirmou.

Segundo Ben van Beurden, a Shell criou uma comercializadora de energia no país e também mantém uma equipe dedicada a buscar oportunidades de investimentos em energia solar. “Já estamos olhando [oportunidades em solar] nesse momento”, disse.

Sobre o setor de biocombustíveis, o executivo afirmou que é favorável ao aumento dos investimentos no segmento e que a empresa também mira oportunidades de aquisições para expandir sua presença no mercado. Ele lembra, contudo, que a estratégia no negócio cabe à Raízen, joint venture que a multinacional mantém com a Cosan.

Ben van Beurden explica que a busca por novos negócios na área de renováveis e na geração de energia, no Brasil, está dentro da estratégia global da petroleira de se reposicionar frente à transição energética para uma economia de baixo carbono. Em fevereiro, a empresa anunciou a sua estreia no setor de energia, no Brasil, ao entrar com uma fatia de 29,9% no consórcio responsável pela construção da termelétrica a gás de Marlim Azul (565 megawatts), em Macaé (RJ), ao lado do Pátria Investimentos e da Mitsubishi. A unidade consumirá o gás da Shell do pré-sal.

Globalmente, a empresa trabalha com um orçamento anual de cerca de US$ 2 bilhões em novas energias. Desde 2017, a Shell comprou a Sonnen, alemã que concorre com a Tesla e a Samsung no fornecimento de baterias de íon de lítio de uso residencial alimentadas por energia solar, e a New Motion, uma das maiores empresas europeias de carregamento de veículos elétricos, por exemplo.

“Sou confiante de que podemos intensificar os investimentos nessa área de negócios, mas temos que provar aos investidores que a teoria é correta”, disse.

Questionado sobre como conciliar a tendência mundial de eletrificação da frota com a vocação do mercado brasileiro para o etanol, Ben van Beurden disse acreditar que “países diferentes desenvolvem modelos de negócios diferentes”. “Não precisamos necessariamente ter veículos elétricos [no Brasil]. A questão é como reduzir as emissões”, afirmou.

Fonte: O Petróleo

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